Técnico em enfermagem fez videoselfie com sobreviventes minutos após queda de helicóptero na Terra Yanomami
09/07/2025
(Foto: Reprodução) Técnico em enfermagem Thiago Wilker, o piloto e um auxiliar que estavam no helicóptero foram resgatados pela Força Aérea Brasileira. O helicóptero caiu logo após a decolagem e pegou fogo. Dois indígenas morreram. Técnico em enfermagem fez videoselfie com sobreviventes minutos após queda de helicóptero
O técnico em enfermagem Thiago Wilker, um dos sobreviventes da queda de um helicóptero na Terra Yanomami que matou dois indígenas, fez um videoselfie com os outros dois sobreviventes poucos minutos após a queda. A aeronave caiu quando o helicóptero fazia a remoção de um paciente na segunda-feira (7), nas proximidades da comunidade Arathau. Dois indígenas morreram.
O vídeo foi enviado ao g1 pelo presidente da Urihi Associação Yanomami, Junior Hekurari — liderança que representa todas as comunidades da região do Surucucu, na Terra Yanomami. Nas imagens, é possível ver o helicóptero ainda em chamas enquanto o técnico, ofegante, narra a situação.
"Todo mundo saiu com vida, graças a Deus. A gente tá aqui no meio da floresta", disse o técnico em enfermagem Thiago Wilker minutos após pular do helicóptero em queda.
No momento do vídeo, a morte das duas lideranças indígenas ainda não havia sido confirmada.
Imagens feitas momentos após queda de helicóptero na Terra Indígena Yanomami
Reprodução
Os dois indígenas que morreram na queda de um helicóptero na Terra Indígena Yanomami eram irmãos e lideranças na região de Arathau. Eles se chamavam Bitado Yanomami, de 78 anos, e Toraquitere Yanomami, de 80.
Thiago Wilker e os outros dois sobreviventes foram levados ao Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Eles foram resgatados na manhã desta terça-feira (8). A reportagem esteve no hospital e viu as três vítimas sem ferimentos aparentes. Mais cedo, o Ministério da Saúde informou que elas estavam bem.
De acordo com Júnior Hekurari, Thiago Wilker foi um dos responsáveis por salvar todos os sobreviventes da queda. Ele retirou as vítimas do helicóptero com a ajuda de um Indígena Yanomami que também estava presente.
"Thiago fala a língua Yanomami e é treinado para esse tipo de situação já atua há seis ou sete anos com remoções. Em momentos como esse, a comunicação é essencial, e o fato de ele falar a língua facilitou muito. Ele orientou todos a saírem do helicóptero rapidamente, ajudando enquanto retirava os feridos. Foi ele quem salvou vidas, como sempre faz em seu trabalho", disse a liderança.
O helicóptero caiu logo após a decolagem e pegou fogo. Um indígena da comunidade em que as duas vítimas moravam viu o acidente e caminhou por três horas em busca de ajuda. A aeronave era da Voare, empresa privada de táxi aéreo que presta serviço ao Ministério da Saúde.
O g1 apurou que a equipe de saúde faria duas viagens: a primeira com os idosos e, depois, retornaria para buscar crianças e jovens da comunidade que também estavam doentes. No entanto, a aeronave caiu pouco depois de sair do solo. Como ainda estava voando baixo, os três sobreviventes conseguiram pular.
Uma criança de 9 anos, que estava próxima, se feriu e foi levada ao Hospital Santo Antonio, única unidade pública que atende pacientes infantis.
Piloto, funcionário da empresa de táxi aéreo e técnico em enfermagem da Sesai recebem atendimento no Hospital Geral de Roraima
Moisés Sanches/Rede Amazônica
Os três sobreviventes foram resgatados pela equipe de Salvamento da Força Aérea Brasileira (FAB). Eles foram levados para o posto de Surucucu, dentro do território indígena, onde receberam atendimento médico, e transferidos para no setor de emergência do HGR, o maior hospital público de Roraima. Eles aguardavam alta médica até às 15h30 dessa terça-feira.
Em nota, o Ministério da Saúde lamentou a morte dos indígenas e informou que "acompanha os desdobramentos do resgate e está dando apoio aos familiares."
O helicóptero era um Esquilo B2, prefixo PP-IVO e ficou completamente destruído após a queda. Ao g1, o empresário Renildo Lima, dono da Voare, informou que na hora da queda o piloto ainda conseguiu desviar para não cair em cima da comunidade Arathau, mas caiu na floresta.
A Voare informou que vai registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil para que os corpos passem por perícia. "A aeronave teve uma pane na decolagem e caiu", disse Renildo.
Em nota a FAB informou que o acidente é investigado pelo Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA VII), que foi até o local para fazer a verificação "inicial dos danos causados à aeronave ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias à investigação."
Infográfico mostra local da queda do helicóptero que matou dois indígenas
Arte g1
Indígenas mortos na queda
Os dois indígenas que morreram na queda de um helicóptero na Terra Indígena Yanomami eram irmãos e lideranças na região de Arathau. Eles se chamavam Bitado Yanomami, de 78 anos, e Toraquitere Yanomami, de 80.
Bitado Yanomami exercia ainda a função de xamã em duas comunidades, localizadas próximo a comunidade Arathau. Na cultura Yanomami, os xamãs são líderes espirituais que se comunicam com os espíritos da floresta e atuam na proteção da comunidade para manter o equilíbrio entre os humanos e a natureza. É uma pessoa de grande respeito e sabedoria.
Os corpos dos dois irmãos chegaram ao Instituto Médico Legal, em Boa Vista, na noite dessa terça-feira (8). O presidente da Urihi Associação Yanomami, Junior Hekurari, disse ao g1 que acompanhou o traslado até a capital.
Segundo ele, as comunidades onde eles viviam estão devastadas com a morte das lideranças.
"As comunidades estão muito abaladas, muito tristes. Todas as comunidades, é um membro muito importante. O xamã é um orientador, líder da comunidade, que aconselha [...] As comunidades estão muito, muito, muito tristes, é uma perda muito grande", afirmou Hekurari.
Em uma publicação feita no X, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte dos indígenas e manifestou solidariedade aos Yanomami e profissionais de saúde.
"Quero prestar minha solidariedade a todos os Yanomami e aos profissionais de saúde e demais áreas que lutam no dia-a-dia pelo bem-estar e os direitos desse povo tão importante para o Brasil e o mundo", disse Lula.
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